terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ser professor é ridículo


Professor. Do latim professus, “aquele que declarou em público”, do verbo profiteri, “declarar publicamente, afirmar perante todos”, formado por pro-, “à frente”, + fateri, “reconhecer, confessar”.
Profissão: Do latim profiteri, “declarar em público”, formada por pro-, “à frente (dos outros)”, + fateri,  “reconhecer, confessar". [1]

Quando decidi que seria professor fui ridicularizado muitas vezes, quase execrado. Meus amigos próximos riram da minha escolha. Muitos colegas se perguntaram acerca da minha sanidade mental. Eu era uma pessoa muito inteligente para desperdiçar minha vida com isso, porque eu não fazia alguma engenharia? Cada pessoa para quem eu contava o meu recente ingresso na faculdade desfazia o sorriso quando eu respondia o curso: licenciatura em Letras. Houve também alguns mais otimistas que disseram: "Ah, mas pra dar aula na faculdade, né? Realmente dá muito dinheiro". Os depoimentos de meus amigos, colegas e conhecidos constroem um panorama comum: ser professor é ridículo. Lecionar é um atrevimento, é se entregar ao caos da educação brasileira em troca de farrapos de salário - o piso salarial é uma piada pronta, tão baixo quanto um piso de ardósia. No entanto, este panorama desastroso não é culpa exclusiva da política.
Recordo-me do depoimento da Profª Amanda Gurgel em uma audiência pública sobre educação no Rio Grande do Norte, no qual ela diz que a precariedade da educação é vista como uma fatalidade e que os professores são colocados na sala de aula com um giz e um quadro para salvar o Brasil. De fato é urgente a mudança das políticas para a educação no país. Um ensino de qualidade pressupõe professores financeira e moralmente valorizados e boas condições de trabalho. Um reflexo do problema é a baixíssima procura pelos cursos de licenciatura nas faculdades. Para exemplificar, os cursos de licenciatura da universidade onde estudo serão ofertados em 2014 exclusivamente no turno vespertino. No entanto, creio que a procura pelos cursos de licenciatura não crescerá somente com a mudança nas políticas educacionais. Vi muitas das pessoas que pediam uma educação padrão FIFA nos protestos de junho dizendo que nunca seriam professores, e uma delas chegou a dizer que até desencorajaria quem estivesse pensando nessa possibilidade. Ser professor só deixará de ser ridículo quando as pessoas deixarem de ser ridículas. O processo de valorização do professor começa com os alunos (e seus responsáveis, se menores), colegas de profissão, amigos e familiares de professores e só então se estende para o governo. Minha outra recordação é da fala da Profª Sandra Cavalcante, do Departamento de Letras, no Simpósio do Instituto de Ciências Humanas da PUC-MG, na qual ela disse que não podemos tratar a educação como um chão de fábrica. A escola não é uma linha de produção de profissionais as um ambiente de produção de conhecimento. Em resumo: uma mudança ideológica primeiro, uma mudança política depois.
Não é por mero acaso do destino que as palavras professor e profissão estejam intimamente ligadas em sua etimologia. Aquele que almeja um ofício, qualquer que seja, carece de um professor em seu aprendizado. A essência de ser profissional - engenheiro, administrador, promotor, jornalista ou cozinheiro - está em professar, através do seu trabalho, aquilo que lhe foi ensinado.

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Cora Coralina.

REFERÊNCIAS:
[1] Artigo "Profissões". Disponível em http://origemdapalavra.com.br/artigo/profissoes-i/. Acessado em 15 de outubro de 2013.

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