segunda-feira, 16 de março de 2015

Carta a um(a) amigo(a) que se diz cristã(o)

Caro(a) amigo(a) que se diz cristã(o),

Se o cristianismo pra você se resume a frases feitas, prosperidade e meditações espiritualistas ou não tem (ou perdeu) a relevância nos seus conflitos e questões cotidianas, e por isso você precisa encontrar respostas em outras cosmovisões, tais como feminismo e marxismo, uma coisa é verdade: você já deixou de ser cristão. Um legítimo marxismo cristão (ou cristianismo marxista) ou feminismo cristão (ou cristianismo feminista) é tão plausível quanto um ateísmo cristão (ou um cristianismo ateísta). Brincadeiras com os ismos à parte, seu "cristianismo" é raso, frágil... Você se diz cristão mas sua fé não toca a realidade!
A dicotomia entre a sua suposta liberdade (moral, religiosa, afetiva) e as prisões da sua natureza determinista te desnorteia, e não há utópica dialética que misture essa água e esse óleo. Aí vem você e dá um salto existencial no culto de domingo no qual você percebe um pouco de sentido à sua vida. "O coração humano é uma fábrica de ídolos. Cada um de nós é, desde o ventre materno, experto em criar ídolos", já dizia Calvino e você, desta forma, criou o seu! Você o moldou conforme suas inclinações, medos e anseios e agora presta a ele obediência. O ídolo é seu guia e você não depende mais do Deus invisível. Seja seu ídolo os seus desejos, as pessoas que você ama, o capital, sua filosofia, as forças sociais, a teologia, a luta de classes, ou qualquer outro que seja, ele é sempre uma negação da revelação de Cristo.
Faço, então, dois pedidos para você.
Somos seres essencialmente religiosos, não há como negar. Se você entende a impossibilidade de consonância entre seu ídolo e sua fé, é um bom sinal. Ore a Deus pedindo sua direção e abrace o sola scriptura (somente a escritura) como único princípio norteador da sua cosmovisão; única regra de fé e prática.
Se você ainda assim se recusa a entender que o cristianismo não é e jamais será dialético, e que é impossível misturar suas convicções ideológicas sectaristas com a sua fé cristã, é melhor que você siga sua vida sem se dizer cristão. Seja honesto(a) consigo mesmo(a) e não continue envergonhando o evangelho da cruz. Assuma as suas convicções secularistas, tente viver segundo sua própria cosmovisão. Talvez -  e só talvez - seja menos doloroso, ainda que seja, certamente, um prejuízo inimaginável.

No desejo que você se encontre, uma hora ou outra, em meu primeiro pedido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário